Perceber que alguém fala de um jeito diferente da gente é muito fácil. O sotaque denuncia imediatamente que certo falante é de outro local. Pode ser um falante não-nativo da língua. Pode ser alguém de outro estado. Pode ser alguém de uma cidade vizinha. É incrível como uma língua pode ter variações de entonação e pronúncia, dando forma ao que chamamos de sotaque. Para entender um pouco mais sobre ele, vamos por tópicos...
Sotaque perigoso
Infelizmente, ainda acompanhamos casos de preconceito regional, e o sotaque, ao identificar um grupo de pessoas, pode dar abertura ao episódio de discriminação. Em um nível e contexto diferente, vemos o mesmo em tempos mais remotos. Na Bíblia, uma tribo vitoriosa usava o fato de que seus inimigos não conseguiam pronunciar a palavra "shibboleth" corretamente para identificá-los e assassiná-los.
Animais também têm sotaques
Nós, humanos, não somos os únicos. Cabras balem com sotaques diferentes, de acordo com onde vivem. Gibões uivam de formas diferentes, dependendo dos grupos em que foram criados. Existem até pesquisadores especializados em sotaques de pombos.
Quando os sotaques começam?
Bebês nascem com a habilidade de fazer qualquer tipo de som. Por exemplo, se uma criança cresce em um ambiente em que duas línguas são faladas regularmente, ela vai aprender a falar ambas perfeitamente. Em algum momento, porém, nós perdemos a capacidade de produzir certos sons e, antes disso, perdemos a capacidade de escutá-los.
A arte de "pegar" sotaques
Não sei vocês, mas eu tenho a irritante mania de absorver sotaques. Trinta minutos conversando com um gaúcho e eu, do Rio de Janeiro, já estou deixando de chiar meus S's. Ok, eu sou um caso sério. Mas muitas pessoas que se mudam para um novo local se deparam com essa transformação em seus modos de falar. Ou então o mesmo ocorre em uma viagem de alguns dias ou semanas. Há explicação para o fenômeno. Estudos revelaram que imitar o sotaque do interlocutor facilita o entendimento do que ele está dizendo. Se uma pessoa tem ideia das diferenças na pronúncia, seu cérebro precisa de menos poder de processamento para entender o que está sendo dito, então a troca verbal se torna mais fluida.
É difícil um sotaque mudar completamente. Imitações são só imitações. Ao simular um sotaque, uma pessoa depende da memória de como alguém fala. Sotaques têm mais a ver com a posição em que seguramos a boca e a língua. Quem quer aprender a fazer um sotaque deve dispor de tempo e atenção, além de praticar com alguém para sinalizar se está no caminho certo ou apenas ridículo. Qualquer um pode treinar seu cérebro para ouvir os sons certos e sua boca para reproduzi-los. Alguns atores fazem isso muito bem. O britânico Hugh Laurie é um ótimo exemplo: como House, ninguém diz que ele não é americano. E Idris Elba faz tanto sotaque americano genérico quanto regionais.